É preciso refletir: um olhar sobre a traição mais comentada do país
- José Odincs
- 28 de mar. de 2022
- 3 min de leitura

Muito se tem visto principalmente nas redes sociais, uma avalanche de memes e sátiras sobre o caso da traição envolvendo a esposa de uma personal trainer e um homem em situação de rua, caso este que penso ser preciso tecer algumas reflexões. Deixo claro que meu interesse não é aqui demonizar qualquer das partes, mas antes de tudo, refletir principalmente sobre valores que alicerçam nossa sociedade. Já que ao meu ver a polêmica em questão trouxe à tona mais uma vez o modus operandi da lógica que permeia toda a estrutura social e política em nosso país. A lógica a qual me refiro é a do racismo, deixando claro que utilizo o conceito racismo num sentido mais amplo, já que entendo que o sexismo, homofobia, xenofobia, entre outros, possuem como estrutura a lógica racista, que cria um outro sempre o inferiorizando, uma coisificação que objetifica sempre de forma negativa.
Meu interesse é buscar criar pontes a fim de discutirmos estas questões para além da superficialidade tão comum nas mais variadas formas de mídia. Precisamos urgentemente emergir deste lamaçal que nos encontramos, principalmente quando somos soterrados todos os dias por uma avalanche de desinformação que tem por objetivo nos manter subjugados às formas dominantes de poder. Por isso a urgência de pensarmos a superexposição da mulher que tem por objetivo satisfazer certos interesses, desconsiderando seu estado emocional. É preciso também questionar entre tantas coisas a ideia da liberdade sexual pela ótica de nossa sociedade, porque se esta "liberdade" deveria ser pensada como uma forma de empoderamento feminino, hoje ela é também captada pela superestrutura e utilizada como reafirmação do corpo feminino como coisa a ser consumida. No caso específico do Brasil, é nítido a disparidade de reconhecimento na relação entre homens e mulheres, uma assimetria que é visível nas relações econômicas quando as mulheres ganham menos exercendo o mesmo cargo que um homem, ou mesmo quando a um homem é possível trair, mas a mulher, jamais.
Uma sociedade majoritariamente regida pelo patriarcado, fica fácil perceber o porquê o caso da traição ganhou tanta notoriedade. E é sobre isso que temos que nos questionar. A pergunta que faço a todos é: Se fosse um homem traindo sua esposa com uma mulher em situação de rua, este homem hoje estaria sendo ridicularizado, exposto das mais variadas formas possíveis, como estamos vendo? E acredito que pelo menos para os de bom senso a resposta é clara, um grande Não! Esta assimetria nas relações sociais entre homens e mulheres é fruto de um grande processo histórico que todos conhecem bem, mas poucos ousam questionar já que se trata em grande medida de manter uma hierarquia tão benéfica para muitos, já que estes tendem a ganhar com relações de exploração e opressão.
Por isso, é preciso que todos se coloquem a refletir sobre a violência social, sobre a seletividade que em nós foi construída principalmente quando se trata de questionar a realidade aí posta. Temos que descontruir esta sociedade que submete mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis, negros, indígenas e gordos (gordos é pessoal hahahah) a uma violência física e emocional em todos os âmbitos sociais, que perpetua e naturaliza a exploração de uns sobre os outros de forma tão perversa.
E o quão assustador é percebermos que o condicionamento dentro desta superestrutura é tão perverso que os explorados acabam explorando, principalmente quando vemos mulheres fazendo piada com o acontecido, sem saber elas que podem ser a próxima vítima. Por isso é preciso barrar esta desumanização, porque ao nos mantermos reproduzindo este sistema perdemos a capacidade de perceber o outro como um campo fluido de sentimentos, vontades e anseios. E não só isso, somos também devastados e arrastados para uma vala comum sem o percebermos. Por fim, deixo estas reflexões para incitar o debate, temos o espaço dos comentários que todos podem se posicionar, tanto para concordar ou mesmo discordar, desde que de forma racional e mantendo a educação.
Autor: José da Mata
Comments