Se faz necessário mais e mais, debatermos sobre a questão do racismo no Brasil e no mundo, expor suas características e apontar seu horizonte de superação. A princípio, entendemos que em uma sociedade capitalista, as suas maiores expressões, não só em tempos de crise, como também em qualquer tempo e espaço, o racismo permeia-o constituindo, talvez, sua maior forma de opressão; pois como diz Malcolm X: “não há capitalismo sem racismo”.
Tendo isso como pressuposto para compreendermos como se dá a sociedade capitalista e suas contradições, a construção e a necessidade de uma criação audiovisual como a série THEM, que se passa nos anos 1950, nos EUA, expõe todas as mazelas sofridas na carne e o reflexo de uma sociedade divididas em raça e classes. Sendo uma serie especificamente do gênero horror, puxado mais para um terror psicológico, Them, com sua primeira temporada consegue trazer para o telespectador uma sensação angustiante, sufocante e de ódio, tudo ao mesmo tempo. A capacidade que a produção tem de lhe envolver na situação da família Emory é de tirar o folego. Mas, afinal, o que podemos tirar de uma análise concreta e marxista dessa obra?
Primeiramente a categoria de divisão de classe e a sua luta imediata por melhores condições de vida é um problema central no percorrer da história. Um homem negro, norte americano, que parte para a Segunda Guerra Mundial, e vê nela dor, sofrimento e o puro suco do racismo, elevado a sua milésima potência por seus próprios “companheiros” e generais de guerra, a ponto de serem negados aos soldados negros, o uso de arma; e sua mulher, que se encontra na situação em que tem que lidar com um homem atordoado pela guerra e suas consequências e, posteriormente, com uma perda irreparável.
A segregação racial, elemento que ocorre após a família se mudar de cidade e estabelecer residência em um bairro só de pessoas brancas, com um histórico de segregação violenta e psicológica com outras famílias negras anteriormente, se dá por sua característica histórica, de um bairro com uma história brancamente amaldiçoada. Isso tudo elucida na frase “não existe capitalismo, sem racismo”, pois, a estrutura da sociedade capitalista está apregoada a divisão racial de classe, mesmo o Sr. Emory tendo um bom cargo onde trabalhava, ainda sim, sendo negro numa sociedade com raízes escravocratas, não seria possível ter os mesmos direitos de “cidadão livre”, de ascender como classe em seu próprio emprego. Essa é a diferença entre a classe trabalhadora branca e a negra dentro do sistema capitalista; não importa o cargo, a formação e a riqueza, ser negro é sinônimo de incapacidade para o sistema.
Para além do impacto de uma sociedade exploradora em todos os aspectos, o terror psicológico engendrado e umbilicalmente ligado ao racismo norte-americano tem papel principal no momento de expor, de forma interligada, o fato objetivo com o subjetivo e psíquico de cada membro da família. Toda a ambientação, espaço, tempo e ação de cada indivíduo, é fruto histórico de sucessivos e já estabelecidos momentos que têm lastro concreta na realidade, ou seja, na vida deles.
Contudo, a maneira como a série aborda o tema racismo com o gênero terror é simplesmente genial, pois, traz consigo o que há de mais crítico; essa crítica fundida com a questão psicológica, como se a população negra da época – e não poderia ser diferente –, sofressem das mazelas psíquicas que o racismo, e não exclusivamente materiais, acarretavam em suas vidas; como se a violência psíquica trouxesse o que fora de mais assombroso materialmente e fisicamente para essas pessoas. O entrelaçamento entre o terror psicológico de uma sociedade racista e escravista na vida da família Emory que, consequentemente, leva a sequencias intermináveis, irreversíveis e sufocantes, é a síntese mais brilhantemente visceral do racismo.
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