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Sábado

  • Jefferson Silva - E-mail: jefferson5684@gmail.com
  • 14 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 15 de jan. de 2023

Hoje é sábado. Passei a acreditar que aos sábados habitava a única possibilidade de ser feliz, a potência que se encontra disponível apenas aos que entendem e, acima de qualquer coisa, querem visualizar o verdadeiro significado por trás da palavra "disposição". Meu personagem de hoje e de muito é o sétimo dia da semana, pois quero dizer acerca dos afetos e suas repercussões.. Em todos os sábados da minha curta, insignificante e medíocre existência, compro rosas na feira, chocolates amargos (dizem que a palavra “extra amargo” contida na embalagem daquele suíço charmoso chamado Lindt Lindor, que por acaso não define absolutamente nada para aqueles que só encontram definições impositivas na porcentagem nítida, não é nada mais que perfumaria), jujubas e colho romãs na frondosa árvore (diz-se “pé” na casa de vovó) no quintal de mainha. Descobri pelos lábios que me devoram efervescente que açúcar de mais no café é uma pachorra e, nada mais desconcertante que ouvir a voz do sábado dizendo a palavra “PACHORRA”, assim mesmo, em letras garrafais. Gosto particularmente quando ela pronuncia a palavra “BO-NI-TO”, pois retorno a ideia de visualizar cada sílaba que sai da boca do tempo.


Hoje é sábado, como faço para desacelerar a queda? Quero uma vida que passe como um filme argentino: belo, mas com a velocidade de uma película iraniana, lenta. Como amar sem pedir nada em troca, mesmo sabendo que aos sábados a intensidade se torna ainda mais intensa? Só aceito um amor que me faça flutuar, literalmente habitar planos elevados na visceralidade extraordinária de tonalidades inquietantes. É a oscilação do rotineiro ao monumental que me faz querer continuar sentindo. Viro a esquina levando as rosas (da próxima vez comprarei girassóis), o charmoso Lindt Lindor extra amargo, jujubas e as romãs colhidas no quintal de mainha, estou em casa novamente. A Champs-Élysée é conhecida como a avenida mais bela do mundo, "La plus belle avenue du monde", devo ter ouvido em alguma música de Hardy. Mas os Campos Elisíos se referem ao paraíso dos gregos e não a lojas, vícios e pessoas efêmeras. Na terceira porta a esquerda de lugar nenhum encontro um jovem novaiorquino exilado pelo desejo, que me revela que a única literatura possível é aquela que foi vivida, a literatura empírica. Eu preciso sonhar e viver o meu sonho. Como no poema de Benedetti, me debruço sobre táticas e estratégias e acuso Sartre de ser o maior filho da puta de todos, afinal, sofrimento psicológico prolongado é muito pior que dor física. A realidade dói quando tento controlar o que se passa nos outros. Vejo o céu, a água e os prédios que não atrapalham a nossa vontade de aos sábados ver o pôr do sol, gosto disso, ou pelo menos descobri que a beleza mais surpreendente se encontra na distração, afinal, ela te pega de surpresa, como aquele sentimento que surge da idealização em uma noite qualquer de (vejam só que surpresa) um sábado de março de 2018. Acho que consigo flutuar novamente. É leve e dissipa todas as inseguranças porque não me pede nada em troca. Eu te enxergo e não há nada mais bonito que a honra de poder te ver por inteiro aos sábados. “Olha, que não há mais metafísica no mundo senão chocolates”, Pessoa tinha razão, eu apenas acrescentaria (que PACHORRA a de quem acrescenta algo a Pessoa kkkk), que a metafísica, assim como os chocolates, as rosas, jujubas e romãs apenas são possíveis aos sábados. Olha, é sábado novamente. É outra oportunidade de dizer “bonjour, mon cher. Ça vas?”, como os franceses que acreditam na continuação do dia, eu acredito que o sábado nunca tem fim, principalmente se você estiver embaixo de um flamboiã.




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