top of page

Amor

  • Autor: Jefferson Silva - E-mail: jefferson5684@gmail.com
  • 3 de jan. de 2024
  • 3 min de leitura

Nas últimas semanas venho tentando compreender a partir da minha própria perspectiva o que seria o amor. Por mais importante que seja para a história da civilização ocidental, as múltiplas reflexões que a filosofia pariu acerca do toque mais profundo dos afetos podem não representar o quão complexo é dizer sobre o amor, mas também pode não ser o suficiente. Amar é verbo transitivo direto com forte disposição para ser irregular, mas não é, pelo menos é o que nos dizem os dicionários. Aqui, não me interessam as conjugações, muito menos a norma culta, mas uma palavra utilizada anteriormente: DISPOSIÇÃO. Amar é estar disposto.


Sim, eu sei que prometi me despir da filosofia, mas acredito que você pode me perdoar, às vezes eu minto, péssimo hábito dos filósofos..É interessante como o amor está sempre na boca das pessoas, na pena do poeta e nas definições dos filósofos. A mitologia grega nos ensina que nos primórdios o homem era completo, contendo em si duas cabeças, quatro pernas e quatro braços. Preenchido por um orgulho imenso, tentou desafiar os deuses em busca de destroná-los e ocupar aquela posição que acreditavam ser sua. Derrotados por Zeus, tiveram como castigo a lâmina do senhor do Olimpo que separa os corpos para sempre condenando todos os seres humanos a passarem o resto da vida procurando pela sua outra metade e, enfim, serem completos, felizes e perfeitos novamente. Eu não acredito nesse tipo de coisa, aliás, me arrisco a dizer que nem como poesia esse tipo de coisa serve mais nos dias de hoje. Ninguém completa ninguém. Ninguém se torna perfeito ao lado de ninguém. Tom Jobim não estava de todo enganado, admito.. Afinal, para ser feliz com alguém é preciso saber o quão bom é ser feliz sozinho, para só depois partilhar. Em todas as vezes que partilhei algo, só partilhei porque fui feliz.


Há quase cinco anos atrás eu pensei que havia conhecido o amor da minha vida, a definição perfeita dos gregos para o complemento enquanto única forma de ser feliz e “perfeito”, seja lá o que isso signifique..O problema estava justamente na definição, nos gregos também, mas vamos passar essa leve flanela na cabeça desse povo, mas só hoje.. Não existe ninguém neste mundo que te torne perfeito, perfeição requer perenidade e o ser humano é inconstante demais para ser perene. Hoje, eu reencontrei aquela pessoa de anos atrás apenas com uma certeza: que ela é o grande amor da minha vida. A partir daqui passei a abandonar os gregos e me filiei a Borges, grande escritor argentino, talvez por acreditar que o mais intenso dos afetos apenas possa ser comparado a sensação de assistir uma película argentina que desejamos que nunca acabe, de tão linda.. Borges acreditava que amor requer frequência, não perenidade, mas frequência. Tudo aquilo que apenas pode ser frequentado, não é amor, amor é frequência, amizade é frequentação. Hoje eu me encontro no melhor momento da minha vida, por isso não tenho mais tempo apenas para frequentar a felicidade, mesmo que não seja perene quero que ela me frequente, pois escolhi a frequência de uma vida com o meu amor.


Bell Hooks acreditava que “O amor cura. Nossa recuperação está no ato e na arte de amar.”. Eu sei que ela fala a partir de um contexto direcionado historicamente as mulheres pretas, mas gostaria de “pegar emprestado” por um instante a frase de Bell. Só se cura aquilo que se encontra doente e por mais que a cura venha, ela não é o suficiente quando não se está disposto, voltamos ao início de tudo.. Eu sou um cara violento. Aprendi a agredir tudo aquilo que também me agride, a violência sempre foi pedagógica comigo, afinal, o mundo sempre foi violento comigo. O problema de ser constantemente violento é que nem sempre as pessoas serão violentas com você, assim, mesmo quando se recebe amor, por puro reflexo você continua reproduzindo violência. Assim se perde tudo, até mesmo quem poderia ficar. Eu costumo acreditar que o primeiro passo para a cura é reconhecer que se tem um problema, eu estou doente e, por tudo isso, tenho um problema. O próximo passo é ter frequência na cura e não frequentação. O amor sozinho não é suficiente, é importante que se diga.. Acho que preciso de ajuda.. Tenho certeza que estou disposto ao amor novamente. Disposição!





Posts recentes

Ver tudo

Comentarios


Contate-nos 

Obrigado pelo envio!

Mantenha-se atualizado

Obrigado pelo envio!     Poíesis em Devir

  • Ícone do SoundCloud Branco
  • Ícone do Facebook Branco
  • Ícone do Twitter Branco
  • Ícone do Instagram Branco
  • Ícone do Youtube Branco
© 2021por POÍESIS EM DEVIR. Orgulhosamente criado com Wix.com
bottom of page