top of page

Quem tem medo de negros esclarecidos?

  • Jefferson Silva - E-mail: jefferson5684@gmail.com
  • 7 de mai. de 2022
  • 3 min de leitura

É bastante interessante analisar como as relações raciais estão dispostas em um país que exala desigualdades, mas principalmente é essencial perceber como estas mesmas relações se dão em ambientes concretos de poder. “Privilégio” aqui se apresenta enquanto palavra-chave. Privilégio de estar no mundo completamente disperso às distinções que condenam determinados indivíduos da scala naturae socioeconômica de poder democraticamente disputar o seu lugar na existência. Quando se tolhe direitos, a coisa mais óbvia a se fazer é transferir a culpa da opressão para quem foi oprimido, mas nunca responder as questões impostas. Nestas horas todos os detentores dos privilégios vomitam seu elevadíssimo conhecimento elitista acerca de como aqueles que sofrem deveriam ditar a sua vida, afinal, até mesmo “problemas de aceitação da sua própria cor” são postos à mesa, mas nenhuma solução ou resposta as questões basilares.


O processo de construção da identidade do indivíduo negro perpassa historicamente toda a decadência da sociedade brasileira que lucrou com as nossas dores, seja através da fetichização dos corpos das mulatas ou da imposição idealizada do malandro preto que está sempre a postos para te golpear sorrateiramente. Assim, o branco detentor da engrenagem que oprime e poda, diz ao negro que a sua revolta é fruto de falta de aceitação. Seria falta de aceitação da sua cor, ou falta de conformismo com a sua própria condição? O negro esclarecido não mais baixa a cabeça para quem detém a chibata, ele levanta a vista e olha para além das imposições. Nenhum branco tem o direito de dizer acerca das complexidades que carregam os corpos pretos, que nesta terra perecem às migalhas de quem nunca quis nos “permitir” viver, mas apenas “sobreviver”. Uma dor só é verdadeiramente mensurável por quem sente, ou já sentiu. Neste sentido, branco nenhum pode diagnosticar nossos corpos apenas a partir de uma visão superficial e contaminada historicamente pelas relações de poder que nos impõe a docialidade.


Dizer que o branco é privilegiado, não é falar acerca daqueles que nasceram em berço de ouro, ou que conquistaram honestamente sua ascensão social e econômica. O branco é privilegiado quando ele usufrui da máquina de opressão, e consequentemente dos seus benefícios, apenas por existir. No racismo a coisa se manifesta de maneira prática, afinal, nenhum branco sofreu ou sofrerá racismo, levando em consideração que o conceito diz acerca daqueles que têm seus direitos expurgados pelo simples fato de pertencerem a determinados grupos étnico-raciais. Nenhum negro nunca escravizou populações brancas com a justificativa de serem “inferiores”, seja lá o que isso signifique. Logo, constatar que um branco está sendo beneficiado pelas relações históricas de poder que proporcionaram ele a se encontrar naquela condição de “superioridade”, não é racismo, mas pura exposição factual empírica de algo sabido por qualquer um que tenha Q.I acima de 20.


Quando o filósofo norte-americano W.E.B Du Bois falou sobre a dualidade da consciência do indivíduo negro, ele estava discursando exatamente sobre os processos de construção de uma identidade dilacerada historicamente. Para Du Bois, todo e qualquer indivíduo negro, nos E.U.A até sua época, foi condicionado a possuir uma consciência dual. Ele é preto e americano (lembrando que Du Bois discursa essencialmente sobre a sua realidade) dentro de casa, mas é apenas preto no mundo da porta para fora. Ainda por cima ele também se encontra em um processo de não pertencimento, pois, não é negro o suficiente para ser africano, mas também não é americano o suficiente justamente por ser negro. As condições estão dispostas, para entendê-las basta querer, diferentemente do discurso meritocrata que diz ao negro que ele apenas “não se esforçou o suficiente”. O que impede um homem ou uma mulher preto(a) de ocupar determinado cargo de poder, ao qual ele tem capacitação mais que necessária, no lugar de um branco que apenas tem os contatos adequados? Oportunidade. A oportunidade é o conceito que traça a linha tênue entre o que é, ou não é possível.


Por fim, tudo isto que acabei de falar faz parte do tão proferido “racismo estrutural”, que diz que existem elementos estruturalizantes dentro da nossa sociedade que perpetuam as relações de poder que oprimem os nossos desde que o mundo é mundo. As estruturas formam pessoas que nasceram apenas para acelerar as engrenagens da máquina de opressão. Classificar um(a) negro(a) como “vitimista” pelo simples fato de ser uma pessoa esclarecida das suas condições é ser racista.




1 Kommentar


José Odincs
José Odincs
07. Mai 2022

Perfeito, parabéns pelo texto!

Gefällt mir
Contate-nos 

Obrigado pelo envio!

Mantenha-se atualizado

Obrigado pelo envio!     Poíesis em Devir

  • Ícone do SoundCloud Branco
  • Ícone do Facebook Branco
  • Ícone do Twitter Branco
  • Ícone do Instagram Branco
  • Ícone do Youtube Branco
© 2021por POÍESIS EM DEVIR. Orgulhosamente criado com Wix.com
bottom of page