O Terror feito às Claras
- José Odincs
- 1 de mai. de 2022
- 3 min de leitura

Não sou de assistir filmes de terror com frequência, mas este filme que venho aqui comentar me chamou atenção. A obra me foi indicada por uma pessoa de sensibilidade ímpar, por isso não poderia relegar esta indicação ao esquecimento. O filme em questão se chama Midsommar - O Mal Não Espera a Noite. Foi lançado em 2019 e possui uma duração de quase três horas, tendo como diretor Ari Aster, mesmo diretor de Hereditário, filme lançado no ano anterior e que teve grande repercussão entre fãs do gênero. Basta dizer aqui que Midsommar não tem o aspecto caótico que outros filmes do gênero possuem, mas o contrário, tudo é muito controlado como se nada nos mínimos detalhes estivesse sujeito às contingências sociais e existenciais na vida dos personagens. Midsommar é um inferno de cores vivas principalmente quando se volta para nos apresentar o folclore sueco. Folclore este riquíssimo em ritualística e símbolos que nos envolvem o tempo todo durante o percurso da obra.
O que Ari Aster nos faz seguir em Midsommar é a vida de Dani (Florence Pugh) e Christian (Jack Reynor) um jovem casal com um relacionamento fragilizado, já que logo no início podemos verificar que Christian acena com desinteresse para com a relação. Mas depois que uma tragédia familiar acontece, o casal envolto no luto se reaproxima e são convidados por amigos a fazer uma viagem, viagem esta que surge como um recomeço para este casal imerso em tantos problemas. A viagem é para um festival de verão bem singular, se assim podemos dizer, em uma remota vila sueca. O que a princípio é visto como a possibilidade de umas férias de verão e de um recomeço, acaba tomando um rumo sinistro e visceralmente.
O Filme mais nos inquieta do que nos assusta, ele é angustiante, brilhante, bonito e horrível ao mesmo tempo. Nele você não vai encontrar o terror clássico, mas uma forma bem particular de nos introduzir uma problemática psicológica e simbólica. O roteiro traz um aspecto ambíguo para a existência, como se a todo instante podemos estar imersos em simulacros que outros e que nós mesmos criamos. Diante desta perspectiva vemos a transformação dos personagens, principalmente da Dani, porque se no começo do filme ela se mostra uma jovem fragilizada sentimentalmente, sua transformação no percurso do enredo nos impressiona. O fator psicológico é sempre muito bem explorado, cada olhar e cada fala possuem uma intenção, cada símbolo nos indica algo mesmo quando não percebemos, a todo instante algo nos personagens se inverte, dá força à fragilidade, dá coragem ao medo. o que nos indica que nem sempre somos tão fortes ou fracos como pensamos.
Temos uma obra que nos afronta por várias perspectivas, aspectos que impactam nossas relações desde a frieza, apatia, loucura, conveniência e manipulação. Somos confrontados por aspectos que nos inquietam, mas não só isso, nos fazem perceber que estas questões permeiam nossas relações a todo instante. Midsommar é um filme que não se finda no seu término, ele nos deixa portas e janelas abertas para ser revisitado, interrogado e até mesmo modificado em seus sentidos, já que seu roteiro possui pontos interpretativos que nos insere dentro da obra. Eu mesmo fico pensando que alguns acontecimentos que nos escapam a intenção, podem ser a origem de toda a trama. Por fim espero que esta indicação venha a calhar neste final de semana, da mesma forma que deixo a dica que não se enganem com a luz, as trevas estão à espreita! hahahahahaha
Texto: José da Mata
Atualmente é o meu diretor preferido na linha do terror/horror