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O professor para além da Academia: desafios da sala de aula

  • Foto do escritor: José Odincs
    José Odincs
  • 7 de jun. de 2022
  • 4 min de leitura


Debates sobre o papel de um professor em sala de aula e quais metodologias este emprega ou deveria empregar são comuns. Muitos destes debates se firmam numa perspectiva tão abstrata que o objeto mesmo do debate se torna idealizado. O professor e a sala de aula são alçados quase ao mundo inteligível de Platão, tendo nas ideias perfeitas a base de conhecimento que estruturaria a docência e as relações sociais que permeiam o âmbito educacional. Mas a questão é: esta idealização ajuda ou mais prejudica? E como alguém formado neste sistema ideal, tendo hoje encarado a realidade da sala de aula, afirmo que se não prejudica, pelo menos em nada ajuda.


O que a universidade nos apresenta de forma magistral é um campo conceitual e teórico muito rico. O que ela não consegue em muitos casos é transpor esta teorização para o que mais importa que é a prática docente numa perspectiva social comum, prática esta que não só envolve o professor, mas todo um campo fluido de relações que escapam a qualquer teorização por mais complexa e vasta que esta seja. Justamente por isso é urgente nos despirmos de estruturas puramente teóricas, nos afastarmos um pouco do rigor conceitual engessado e pensarmos a prática docente numa perspectiva existencial no sentido do abandono. O que quero indicar com isso é que precisamos pensar o professor como um ente abandonado numa realidade outra, realidade esta que estar para além do enquadramento académico.


A realidade que quero me referir por vivenciá-la é a do ensino público. Deixo claro que não tenho pretensão de diminuir a importância da formação superior, muito menos indicar uma cisão entre a academia como âmbito de formação, e a sala de aula, que acolhe quem adquiriu uma formação específica e exercerá a docência numa realidade outra que não a acadêmica. Pelo contrário, quero aqui expandir o entendimento sobre o papel teórico e prático que permeia estas duas instâncias, porque se por um lado é preciso existir uma instância formadora, esta formação precisa ser pensada de forma integral e voltada para as especificidades que não as do ensino superior simplesmente. Falo isso porque entendo ser preciso superar uma visão quase platônica que pensa a educação superior como um campo inteligível, sendo a escola pública, como busco problematizar, um simulacro desta realidade “superior”, pelo menos como muitos entendem, o que implica num equívoco de método enorme.


A escola pública sendo pensada como um campo incipiente de uma outra realidade entendida como superior é um erro, justamente porque relega a importância desta como base e sem a qual a outra não existiria. O que quero dizer com isso é que a educação pública é que deve servir de guia para que a educação superior reflita sobre si mesma, o que em muitos casos não acontece. A universidade reproduz uma perspectiva tão ideal da sala de aula, da prática docente, e principalmente, da relação entre professor e aluno; que quando alguém que saí de suas fileiras e adentra numa sala de aula do ensino médio, por exemplo, se depara com uma realidade que foge a qualquer teorização prévia que este tenha conhecimento, acontecendo com isso a sensação de abandono.


O abandono a que me refiro é a do sujeito que entendia que sua formação lhe daria o suporte necessário para esta nova realidade, mas percebe não ser bem verdade, tendo ele que a partir daquela nova realidade - e não mais na perspectiva teórica a que acreditava ser a única base possível para sua atuação - se reformular absorvendo outras bases que não mais apenas a teórica..


Diante destes novos desafios, se faz necessário compreender que a sala de aula é um organismo singular dentro de uma grande multiplicidade. Que as contingências na prática docente é o que faz dela um desafio. Pensar a educação ou mesmo a formação de quem vai encarar esta realidade de forma ideal é um desserviço não apenas a quem está sendo formado, mas para a educação de forma geral. A universidade tem que ser uma base comum para o ensino em todas as esferas educacionais e não algo apartado. É preciso entender que a sala de aula é por essência um âmbito social, ambiente relacional em que muitas das vezes o conflito se faz presente, que a relação entre professor e aluno vai muito além de uma simples transmissão ou apresentação de conteúdos como muitas vezes se pensa.


Diante destas questões tratadas de forma apressada, busco por em questão uma reflexão que pode servir aos que estão hoje em formação nos cursos de licenciatura por todo o país, a fim que estes comecem a refletir desde já sobre a prática docente e os desafios que enfrentarão, já que os desafios são múltiplos e em alguns casos intransponíveis até o momento. Por fim, é preciso também indicar que a universidade possui suas limitações, e sendo ela também um ambiente relacional é preciso se colocar desde já numa postura ativa, questionar a formação de si mesmo em vez de apenas seguir por vias que são traçadas por outrem.



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