O pensamento político entre Hobbes e Nietzsche
- José Odincs
- 14 de abr. de 2022
- 3 min de leitura

Hobbes é sem dúvida um dos pensadores políticos mais conhecidos, sua teoria do contrato social é estudada até os dias de hoje. Algo bem conhecido em sua filosofia é o estado de natureza, período primitivo que os indivíduos seriam guiados por suas paixões como por exemplo: a ira, o medo da morte ou mesmo orgulho, inclinações humanas que explicariam, para Hobbes, a tendência ao conflito entre os homens. Um segundo ponto é o estado artificial, que dentro deste pensamento se concretiza quando os indivíduos que viviam no estado de natureza percebem que sua condição natural que tende ao conflito gera uma ameaça constante a vida, sendo preciso a superação desta condição, que acontece por meio do contrato social, que nada mais é do que a alienação dos direitos naturais visando uma convergência de muitas vontades individuais para criar uma vontade superior única, gerando com isso um corpo político artificial único, representado na imagem do soberano.
Claro que esta descrição é uma grande simplificação da teoria do Estado hobbesiano, mas nosso objetivo é trazer, mesmo que de forma superficial, esta concepção para que possamos verificar onde então Nietzsche entra nessa história. E a resposta é que na perspectiva nietzschiana também encontramos a concepção de dois estados, um natural e, um segundo, social, como vemos também em Hobbes. Mas vamos lá explicar melhor esta aproximação.
Para melhor entendermos como estes dois pensadores tão diversos podem possuir aproximações é preciso compreender que, para Nietzsche: vida é vontade de potência, movimento que tem nas relações de poder e pulsões a centralidade da existência. E como o homem animal é movido pelas pulsões, em seu ambiente natural o conflito é constante e necessário, dito de outra forma, a vida mesma em sua expansão gera antagonismos. Se em Hobbes o homem sai do estado de natureza por meio do contrato social e cria assim o estado artificial, tendo como base a concepção de soberania, em Nietzsche implica indicar o processo e transformação do animal homem do estado natural (cultural), para o homem compreendido como sujeito, o homem civilizado. O estado civilizado para Nietzsche só foi possível porque se conseguiu transformar um animal pulsional em uma forma social doméstica, sendo este caracterizado por ele na imagem do homem moderno.
Para Nietzsche, não existe a ideia de contrato como em Hobbes, mas o contrário, para ele foi por meio da imposição da força e do castigo que a estrutura social foi tomando forma. Como vemos, existe uma aproximação entre os dois pensadores quando encontramos a concepção de uma vida pré-social em contraste a um ambiente civilizado, sendo o primeiro claramente um ambiente de conflito e o segundo um enquadramento do indivíduo numa forma amansada e social.
Hobbes e Nietzsche pensam o indivíduo sempre por meio das relações de força. O que vai distanciar, teoricamente, estes dois pensadores não é suas formulações do estado primitivo, pré social, mas antes, como se dá a saída deste estado para uma forma social, a formação da comunidade ou do Estado moderno. Hobbes vai se valer do cientificismo e da lógica para formulação de sua teoria. Já Nietzsche entende que umas das maiores mudanças na transposição do estado de natureza para um estado civil se dá no âmbito psicofisiológico. Hobbes tem em seu horizonte a criação de uma ciência política, enquanto que Nietzsche, não postula criar uma ciência, mas fazer uma análise genealógica de aspectos históricos que para ele não tinham vindo à luz por teóricos anteriores.
Espero que mesmo de forma breve o texto tenha conseguido correlacionar estes dois pensadores tão importantes até os dias atuais. Aos que possuem interesse maior no tema proposto, deixarei como referência a monografia de minha autoria que trata sobre o tema abordado.
Referência:
BONFIM FILHO, J. M. Hobbes e Nietzsche: concepções sobre a formação do estado e inserção no debate político contemporâneo. 2021. 36 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Filosofia).- Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2021.
Muito bom o seu texto, Da Mata. Realmente lembrou tua defesa de Monografia, um ótimo trabalho dentro de um tema apaixonante. Acredito que você vai levar essa pesquisa pra frente.