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A Antropologia filosófica surge no berço da cultura ocidental (em tomo do século Vlll a.C., na Grécia), como uma reflexão sobre o homem, trazendo como objeto de estudo a interrogação: “o que é o homem?”. Questão que permanece central nas mais variadas expressões socioculturais como por exemplo: literatura, ciência, filosofia e política. Na Antropologia filosófica se evidência o homem por este possuir a singularidade de interrogador de si mesmo, tendo uma capacidade reflexiva, abrindo-se assim a relação sujeito-objeto por meio da qual ele se abre ao mundo exterior.
Diante desta reflexão, tivemos uma grande gama de autores se debruçando sobre o tema e apresentando suas concepções sobre o que é o homem e o que os diferencia dos demais animais. Dito isto, iremos aqui apresentar a concepção de natureza humana que o filósofo grego Aristóteles (384 — 322 a.C.), nos apresenta, principalmente em seu texto de Anima (Da Alma). Aristóteles tem uma compreensão biológica, ele vê seres humanos como um tipo de animal, mas um tipo muito especial, exclusivamente capaz de pensamento racional. E ele vê os animais (mamíferos, répteis, pássaros, insetos, crustáceos, etc.) como um tipo principal de vida, sendo as plantas a outra. Aristóteles descreve sua abordagem biológica em seu tratado Anima (Da Alma) como já citado anteriormente. Mas imediatamente devemos estar cientes dos problemas em usar a palavra “alma” para traduzir o grego “Ψυχή” (psique), pois “alma” tem para muitos de nós fortes conotações religiosas, derivadas de Platão e do Cristianismo. Mas Aristóteles oferece uma concepção totalmente diferente da psique. Podemos entender a psique de Aristóteles como um "princípio (ou forma) de vida" e interpretar sua afirmação de que as coisas vivas têm diferentes tipos de alma, o que significa que têm modos distintos de viver e funcionar.
Aristóteles aplica sua distinção entre matéria e forma a este caso e diz que a alma é a “forma” de uma coisa viva. Mas “forma” aqui não significa Forma platônica; em vez disso, é o que torna algo o tipo de coisa fundamental que é (a “causa formal”). O que torna algo vivo? Esta questão não tem o sentido de o que trouxe à existência (a causa “eficiente”), mas, ao invés, o que é para algo estar vivo, que critérios algo tem que satisfazer para ser considerado uma coisa viva? Já que plantas e animais também estão vivos.
O que então distingue os animais das plantas? Ao contrário das plantas, eles têm as faculdades de percepção sensorial, desejo e automovimento. O que então os seres humanos têm, além de tudo isso? A resposta de Aristóteles é a faculdade de “pensamento e intelecto”. O que outros animais não possuem é a capacidade de pensamentos que podem ser expressos na linguagem, inquirir de forma racional sobre crenças de que algo é verdadeiro ou de que algo deveria ser correto, podendo ser dados motivos a favor e contra: envolvem conceitos universais, conceitos gerais que os animais não têm, segundo Aristóteles. Assim, a alma ou psique humana deve ser entendida não como uma coisa, mas como um conjunto de faculdades rotuladas de razão que são fundamentais para o modo distintamente humano de viver e funcionar. Aristóteles escreve: (408b13), “Talvez seja melhor dizer não que a alma se apieda ou apreende ou raciocina, mas que o homem o faz com a alma”. Podemos sugerir, no espírito desta abordagem, que é melhor ainda dizer que a pessoa aprende e pensa, usando suas faculdades mentais.
Portanto, o ser humano vive, age e funciona de forma humana - esse "modo" pode ser analisado como um conjunto de faculdades ou formas de funcionamento que normalmente andam juntas (embora algumas possam estar ausentes, por exemplo, quando alguém perde a memória ou uma criança ainda não aprendeu a falar). Nessa concepção, é difícil dar sentido e falar de uma alma ou psique que exista sem um corpo, pois se não houver um corpo vivo, não há como o corpo funcionar. Aristóteles chega a esta conclusão em de Anima: (414a14)
Ora, é como forma (e não como recipiente ou substrato) que dizemos que a alma é aquilo por meio de que vivemos, percebemos e pensamos. Se a alma é forma, ela é a atualidade de um corpo de certo tipo (a saber, de um corpo natural dotado de órgãos), e não o contrário.
A alma não pode existir sem um corpo (ao contrário de Platão), não porque ela mesma seja uma espécie de corpo, mas porque a alma não é uma coisa de qualquer tipo; em vez disso, é uma propriedade complexa de corpos vivos. Aristóteles estava ciente da teoria tripartida da alma de Platão, mas ele reconceitualiza. Uma parte de uma alma aristotélica deveria ser entendida como uma capacidade da pessoa, distinta de outras capacidades. Pode-se esperar que ele siga o exemplo de Platão, distinguindo raciocínio, emoção e desejo; mas ele não segue exatamente essa divisão tripartida. Ele geralmente contrasta dois elementos, um possuindo razão no sentido pleno e o outro apenas no sentido mais fraco de que pode obedecer à razão, embora também possa ser desobediente. De certa forma o que ele fala é que a alma possui aspectos racionais e não racionais.
Parece que sua principal distinção é entre a razão de Platão, por um lado, e o espírito e o apetite juntos do outro; tanto a emoção quanto o desejo são supostamente obedientes à razão, uma vez que o que sentimos e o que queremos podem ser afetados por nosso julgamento ponderado sobre o que é melhor (embora isso nem sempre aconteça). Mais tarde, Aristóteles faz uma distinção dentro de nossa parte racional, entre nossas capacidades para raciocinar sobre as proposições necessárias em matemática e ciências e para deliberar sobre ações práticas. Essa distinção entre razão teórica e prática foi retomada por Immanuel Kant (1724 — 1804).
Para finalizar, outro aspecto crucial da compreensão de Aristóteles da natureza humana, é que somos seres inseparavelmente sociais. Para Aristóteles, o homem é um ser político por natureza, sendo assim, ele possui a necessidade de viver em sociedade. A ação política sendo uma atividade comum a todos tem um papel central no desenvolvimento intelectual, é por meio da vida social que o homem adquire consciência de justiça e injustiça. Ele acreditava que nossa natureza humana atinge seu pleno desenvolvimento apenas quando vivemos como membros de uma sociedade organizada, onde seu paradigma era a polis, a cidade-estado grega.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS
ARISTÓTELES, De anima. Apresentação, tradução e notas de Maria Cecília Gomes dos Reis. 34. ed. São Paulo: 2006
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