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Entre Dostoiévski e Nelson Rodrigues: Acerca da possibilidade de subversão moral em Asfalto Selvagem

  • Jefferson Silva - E-mail: jefferson5684@gmail.com
  • 27 de abr. de 2023
  • 11 min de leitura



O romance Asfalto selvagem, de Nelson Rodrigues, é dividido em duas partes. A primeira parte trata dos doze aos dezoito anos e a segunda depois dos trinta, da vida da protagonista, Engraçadinha, compreendendo núcleos de personagens e cenários igualmente distintos. A divisão do romance em duas partes é de extrema relevância, pois, é justamente através desta dualidade que se instala o enredo, a partir da protagonista. Na segunda fase, Engraçadinha é extremamente religiosa, casada com Zózimo há vinte anos, ela antagoniza o seu próprio eu do passado se tornando uma respeitada mãe de família, o total oposto do que fora na sua juventude, em Vitória-ES. Porém, em dado momento, ela redescobre o prazer do sexo exatamente quando a Engraçadinha do passado aflora e, com ela, ressurge Letícia, uma prima que não só acompanhou toda a relação incestuosa entre Engraçadinha e Sílvio, mas também se declarou apaixonada por Engraçadinha, questão lapidar dentro da ambiguidade de temas aparentemente antagônicos expostos por Nelson, mas que se mostram enquanto faces de uma mesma moeda hipócrita de uma sociedade brasileira que julga a partir de um ideal inexistente.

Nelson Rodrigues trata de redimensionar as ligações afetivas, encurtando os laços familiares até o extremo de darem espaço às perversões sexuais. Nesse ponto, o incesto, seja aquele insinuado entre a protagonista e o pai, quanto o que acontece de fato, entre Sílvio e Engraçadinha, que se julgam primos, mas se descobrem irmãos, seguido pelo adultério que gera Sílvio, filho de Arnaldo com a cunhada, até mesmo o lesbianismo de Letícia, que ainda por cima se mostra apaixonada por Engraçadinha. Neste sentido, o romance transborda a análise óbvia e se apresenta enquanto um contundente diagnóstico social brasileiro.


VIRGINDADE

É justamente através da sobreposição temática entre aparência e essência que Nelson desconstrói a tão orgulhosa imagem da família brasileira feliz e ordenada dentro de um padrão incorruptível. Assim, um tema até então tido como “sagrado” como a questão da virgindade é jogado na mesa enquanto norte da denúncia cada vez mais urgente, a denúncia de que o Brasil é um país que acontece “por baixo dos panos”. Depois de Engraçadinha inventar que está grávida, Arnaldo a leva para uma consulta ginecológica, buscando ter certeza sobre o que a filha afirmava. Porém, para tomar tal atitude, o pai cerca-se de cuidados, buscando pretextos para se informar sobre um médico de confiança e optando, inclusive, por um horário fora do expediente normal, para assegurar o segredo, afinal, era uma pessoa conhecida e não podia ser confrontado em escândalos. Também o médico dá a sua colaboração para ressaltar a importância de se manter a aparência a qualquer custo, quando diz ser possível reconstituir a virgindade da moça, saída aceita pelo pai, mas não por Engraçadinha. Para além das questões morais, a aparência se sobrepõe sempre em uma sociedade que essencialmente julga o indivíduo, não pelo que ele é, mas pelo que aparenta ser;


“— Faço questão de explicar. Um momento! É rápido. Como eu ia dizendo: — eu era um médico que usava a ética tradicional como todo o mundo. Achava o abôrto uma indignidade e nunca me passaria pela cabeça a idéia de devolver a virgindade de uma pobre moça. Note que eu falo ao pai e não ao deputado, ao homem público. Não me interessa o Poder, a Autoridade, o Estado. Mas eu linha uma filha, justamente a mais velha, linda garota, linda. Minha filha gostou de alguém e, vamos usar a expressão do povo: — deu um mal passo. Família rigorosa, muito preconceito e, resumindo: — minha filha se matou. Ora, eu lhe digo, ao senhor que é pai, digo-lhe com a maior naturalidade: — eu daria tudo e insisto: — absolutamente tudo para que minha filha tivesse encontrado um crápula. Um crápula igual a mim, sim, senhor. Entendeu?” (RODRIGUES, Asfalto Selvagem, 1959, p. 109)


Neste sentido, o próprio médico acaba se tornando ferramenta pedagógica de entendimento acerca das questões morais denunciadas por Nelson, não apenas na obra aqui em questão, mas durante todo o seu percurso literário que nutriu o desagrado e essencialmente a ideia de ser justo consigo mesmo. É bastante interessante analisar como durante o trajeto histórico da vida de Nelson Rodrigues podemos encontrar um vasto arcabouço de críticas devastadoras acerca do escritor, principalmente por identificação ideológica. Esses mesmos juízes da história que apedrejaram Nelson na cruz como um criminoso que ele nunca foi, não tentaram olhar para a sua vasta obra a partir de uma perspectiva polifônica (aqui, peço licença a Mikhail Bakhtin, que criou o termo para falar sobre a obra de Dostoiévski, escritor que tratarei mais à frente em diálogo com Nelson). Digamos que a história não foi tão cruel assim. Neste sentido, analisemos um trecho particular de Asfalto Selvagem a partir da ótica do distanciamento entre obra e autor. Na segunda parte da obra, alguns jornalistas (aqui, Nelson traz para si o debate, na perspectiva de sua profissão, o jornalismo, como a notícia é impregnada de subjetividade dentro do enredo de uma época) discutem não apenas como a morte de alguns indivíduos negros deve ser noticiada no jornal, mas se essas mortes realmente devem ser noticiadas;


— Escuta, Estrela! Será que só morreu preto? Dez cadáveres e nenhum branco? Tem paciência, Estrela! Essa, não! Estrela reage: — Não faz carnaval, Aroldo! Mania de fazer carnaval! — Ou você me acha com cara de publicar cadáver de preto na primeira página? Na primeira página, Estrela! Eu ia dar uma chamada e não posso! Estrela, vê se eu tenho ou não tenho razão? Gasta-se jipe, papel, revelador e o Luís Santos não bate nenhum cadáver branco? (RODRIGUES, Asfalto Selvagem, 1959, p. 334)


Aqui a interpretação parece bem óbvia, Nelson é racista. O leitor mais prudente pedirá o contexto, afinal, a época em que Nelson está inserido é racista, não tem como ele escapar às condições impostas pelo tempo. Mas, agora a minha proposta é um pouco diferente, vejamos o trecho a partir da perspectiva de Bakhtin, afinal, sendo Nelson um grande leitor de Dostoiévski, também pode ser possível identificar características da escrita dostoievskiana na obra de Nelson de maneiras variadas. Vejamos a definição de Bakhtin, acerca de Dostoiévski e a polifonia: “A multiplicidade de vozes e consciências independentes e imiscíveis e a autêntica polifonia de vozes plenivalentes constituem, de fato, a peculiaridade fundamental dos romances de Dostoiévski” (BAKHTIN, 2002. p. 4). Assim, o ponto não é debater um possível racismo no romance de Nelson, mas essencialmente enaltecê-lo por colocar à mesa um tema tão pesado em uma época impregnada fortemente por uma moralidade excludente, ou seja, o objetivo de Nelson não é personificar o corpo negro enquanto raça inferior, mas esfregar na cara daquela sociedade a forma como ela tratava o homem e a mulher de pele preta. Sem a pretensão de advogar a favor de ninguém, gostaria de chamar ao debate um gigante intelectual brasileiro que mesmo tendo opiniões completamente destoantes das de Nelson - principalmente no espectro político - não se absteve de sair em defesa do escritor. Em 1977, plena vigência da ditadura militar, Abdias Nascimento, ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário e ativista negro, publica o livro “O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um racismo mascarado”, em que ele cita Nelson da seguinte forma;

O teatro brasileiro de todos os tempos tem em Nelson Rodrigues o seu dramaturgo culminante; com sua linguagem ácida e precisa, Rodrigues contribui para a caracterização das nossas relações de raça com as seguintes palavras: “não caçamos pretos, no meio da rua, a pauladas, como nos Estados Unidos. Mas fazemos o que talvez seja pior. Nós o tratamos com uma cordialidade que é o disfarce pusilânime de um desprezo que fermenta em nós, dia e noite”. (NASCIMENTO, O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um racismo mascarado, 1977, p. 76)

O texto de Nelson que Abdias se refere é “Abdias: o negro autêntico”, de 26/08/1957, crônica publicada no jornal Ultima Hora, em que Nelson escreve uma verdadeira ode ao trabalho de Abdias na luta pelos direitos dos negros em uma época que essas pessoas raramente tinham a oportunidade de dizer acerca de suas dores, Nelson Rodrigues foi voz para um povo que só apanhava e apanha na scala naturae das ruas de nosso país. Na verdade, a frase do Nelson foi citada por Abdias de maneira incompleta, ele conclui o pensamento dizendo: “(…) Acho o branco brasileiro um dos mais racistas do mundo”. O que Nelson faz em sua obra é dar voz a figuras que existem inevitavelmente, mesmo contra a vontade de alguns, o intuito é expor o canalha, covarde e até mesmo o criminoso porque ele faz parte da podridão que compõe o enredo brasileiro. No palco chamado Brasil, o vilão não pode ser quem denuncia, mas quem comete o ato abjeto.


TRAIÇÃO E FAMÍLIA

Agora, voltemos à Asfalto Selvagem e analisemos outro ponto, a traição e a família. Assim como Arnaldo traiu o irmão, tendo um filho com a cunhada, Engraçadinha, mesmo noiva de Zózimo, começa um caso de amor com o primo (perceba o detalhe fundamental que se apresenta na nuance quase que sutil: o ato acontece no divã da biblioteca da casa de Arnaldo). Na segunda fase do romance a protagonista também menciona a fixação de Durval na irmã caçula, Silene, o que faz Engraçadinha lembrar-se de si própria e de Sílvio, ainda mais levando-se em conta a semelhança que havia entre os personagens, tanto no aspecto físico como no comportamental.


“A análise da família pode, então, ser encarada como algo que estabelece um laço indissolúvel entre o aspecto psicológico e a onisciência e a onipresença do narrador, já que esse, ao entrar em contato com o espaço privado, acaba conhecendo segredos relacionados aos personagens, que, por sua vez, carecem de uma análise mais profunda. Dessa forma, o desvendamento do plano psicológico serve, simultaneamente, para aprofundar a ambiguidade do caráter humano, em se tratando do aspecto individual, bem como sustenta a crítica que estabelece a hipocrisia como principal qualidade social. Defeito ou virtude? Sem dúvida, para Nelson Rodrigues, um defeito a ser exterminado, mas, para a sociedade da época, uma qualidade, afinal, a hipocrisia permitia fechar os olhos para os problemas, propiciando a criação de um universo confortável.” (KOBS, Asfalto Selvagem: uma narrativa em crise, 2012, p.172)

A família trazida à tona por Nelson Rodrigues pode ser qualquer família brasileira, situada em qualquer época, a problemática rodrigueana é atemporal, porque diz respeito essencialmente a um Brasil que não muda os seus dilemas, mas sempre retorna a eles em tempos de crise. Neste sentido, a família, tal qual é apresentada por Nelson Rodrigues, representa apenas o tempo da escrita da narrativa ou da ação. Assim, vale a pena destacar a função da família para delinear a dualidade que Nelson concretizou com a divisão de sua obra em duas fases. É no embate entre realidade, idealização e moralidade de fachada, objetificada em uma suposta tradição indestrutível e imposta, que obrigam as personagens a perpetuar a história de seus antepassados.


PONTE ENTRE ASFALTO SELVAGEM E CRIME E CASTIGO


Sendo Nelson um leitor voraz e apaixonado pela obra de Dostoiévski, se torna quase inevitável traçar uma linha tênue entre aproximações e distanciamentos dentro do livro aqui debatido. É em Crime e Castigo que nossa ponte passa a ser construída dentro da segunda parte de Asfalto Selvagem, em que Raskólnikov e Sônia aparecem a partir de uma estrutura trágica e frustrada, a personificação da decepção. O título dado por Dostoiévski ao romance é, em russo, Преступление и наказание ou Prestuplênie i nakazánie, que se aproximaria mais de algo como “Culpa e Expiação”, pois não é acerca da do crime, mas da culpa. Também não é acerca do castigo, mas da expiação. É dizer sobre Leleco, que ao matar Cadelão acaba caindo em uma repetição dos sintomas que traduzem Raskolnikov enquanto indivíduo que busca a afirmação da sua extraordinariedade, no caso de Leleco, a afirmação dele enquanto homem: “— Eu matei, Silene! Matei, porque eu sou homem! Ouviu, Silene? Matei para não deixar de ser homem! Sou homem, Silene!”.

A afirmação se faz presente enquanto ponto de colisão conceitual nas obras de Nelson e Dostoiévski. A forma como se chega ao conceito é a palavra-chave, o assassinato. Mas o problema nunca foi realmente o assassinato, mas sim a culpa, recordemos o título em russo. Assim, a autoafirmação psicológica é o que impede a loucura, consequentemente leva as personagens à encruzilhada: considerando o que eu fiz, logo, o que sou?


Mas então quando chegou a citação?... Pessoalmente, não tenho nenhum assunto com a policia... E por que justamente hoje?...”, pensou, sentindo-se invadido por uma horrível ansiedade. “Senhor, que isso acabe o mais depressa possível!” E, quando ia pôr-se de joelhos para orar, desatou a rir – não da prece, mas de si mesmo. Começou a vestir-se apressadamente. “Vou me perder, mas deixa, acabou-se! Vou calçar as botas!... Afinal, com a poeira do caminho, as manchas cada vez desaparecerão mais. “Porém, apenas as calçou, cheio de receio e repugnância, tirou-as. Mas, refletindo que não tinha outras botas, tornou a calçá-las, desatando a rir novamente. “Tudo isso é convencional, relativo, apenas fórmulas e nada mais.” Essa ideia, a que se agarrava sem convicção, não o impedia de sentir um tremor geral. “Vamos, já me calcei, finalmente”! Mas sua hilaridade cedeu lugar a prostração. “Não, é demasiado para as minhas forças...”, pensou. As pernas vergavam-lhe. “É medo!”, disse de si para si. O calor atordoava-o. “É uma cilada! Arranjaram esse pretexto para me apanharem lá, e quando eu chegar vão direto a questão”, continuou ele com os seus botões, dirigindo-se para a escada. “O pior é que estou com febre... posso cair em alguma indiscrição…” Na escada, lembrou-se que os objetos roubados estavam mal escondidos no forro da parede. “Talvez queiram revistar o quarto durante minha ausência”, pensou. Mas esse desespero e, por assim dizer, esse cinismo subitamente o invadiram de tal modo diante da ideia de sua perdição, que ele teve um gesto de indiferença e continuou seu caminho.” (DOSTOIÉVSKI, Crime e Castigo, 1866, p. 103)


Não obstante a fala de Raskolnikov, temos Leleco, em pura dissonância cognitiva acerca do fato e da idealização da coisa. A contradição psíquica entre ser homem e ser um assassino, que causa a necessidade de ser pego e acabar de vez com a dor da culpa;


“Súbito, deflagra-se o impulso da fuga. Corre, abre a porta e sai. Por um momento, não sabe o que fazer. Há, entre ele e o cadáver — entre o assassino e a vítima —, uma porta fechada. Respira fundo: “Oh graças! Graças!” Cola o ouvido, como se pudesse sentir, através das portas, o rumor da morte, as palpitações do morto. Precisava descer, correr daquele edifício, ir para o outro lado da cidade, para que caísse entre ele e o morto a sombra de outras ruas, outros bairros, outros edifícios. Eis o que pensa: “Se aparecer alguém agora, neste momento, seja conhecido ou desconhecido. Se aparecer alguém, eu cairei de joelhos, gritando: Fui eu! Fui eu!” Então, correu para a escada e foi descendo, um a um, todos os andares. Continua repetindo, para si mesmo: “Se aparecer alguém...” E, sobretudo, tinha medo de ser olhado. Se alguém o olhasse, diria, soluçando: — Eu sou o assassino!” (RODRIGUES, Asfalto Selvagem, 1959, p. 315)




CONCLUSÃO


Tentar retirar uma opinião concisa do escritor russo e do brasileiro a partir de seus escritos é algo inimaginável, pois, mesmo discordando de algumas opiniões e emissores destas, eles não abriam mão de dar-lhes voz em suas histórias, e essa é a característica fundamental da polifonia nos romances de Dostoiévski, a multiplicidade de pensamentos e consciências que se dizem ao mesmo tempo, e que não são caladas apenas porque o autor discordaria delas, mas só em último caso por aporia, o que também podemos enxergar em Nelson. Neste sentido, torna- se tão complicado identificar o que seria uma convicção deles ou apenas um recurso literário de sua preferência. O que se sabe é que de certa forma todos os personagens de alguma maneira também eram um pouco Dostoiévski, assim como eles também eram um pouco rodrigueanos, seja em características físicas, de personalidade, moral, política, etc... Dostoiévski e Nelson eram tudo isso e, ao mesmo tempo, conseguiam não ser nada disso, sendo eles pessoas impossíveis de enquadrar em moldes já pré-estabelecidos. Revoltados quando necessário, mas também ponderados quando solicitados, o escritor russo e o escritor brasileiro se apresentam como indecifráveis, mesmo assim extremamente convictos de seus passos.

Por fim, Dostoiévski e Nelson se apresentam para nós não só como romancistas e dramaturgo, mas também como grandes pensadores, não só de suas épocas, mas para toda a história, com contribuições que contemplam não só a literatura, mas a religião, a sociedade, economia, filosofia, etc. Os dois estão para muito além de uma simples cartilha acadêmica que diz o que é ou não relevante, eles são atemporais e consequentemente objeto de estudo necessário para todos nós.





BIBLIOGRAFIA


Rodrigues, Nelson. Asfalto Selvagem. Companhia das letras, 1994.


Nascimento, Abdias. O Genocídio do Negro Brasileiro: Processo de um racismo mascarado,Perspectiva; apoio: Ipeafro edição, 1977.


Kobs, Verônica Daniel. Asfalto Selvagem: uma narrativa em crise. Guavira Letras, n.15. 2012.

Dostoiévski, Fiódor. Crime e Castigo. Editora 34. 2016.


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