Thiago Gomes da Silva Nunes[2]
Podemos entender as Ciências Humanas como uma modalidade acadêmica que tem por foco de estudo o ser humano na sua completude, enquanto a Filosofia... eita!
Se por Filosofia nos referimos a uma atividade essencialmente reflexiva – palavra que se origina da mistura entre os termos flexão e reflexo – as Ciências Humanas aparecem como uma modalidade acadêmica bastante filosófica, afinal de contas, elas têm por objeto de estudo a existência humana na sua totalidade. Na prática isso significa dizer que se você não curte Filosofia, é muito provável que não vá curtir qualquer uma das Ciências Humanas[3], talvez mais que isso... mas vejamos como se dá essa relação e um exercício filosófico com pretensão de esclarecimento das chamadas “Ciências do Espírito”.
No primeiro momento o que nos importa aqui é, portanto, definir o que são as Ciências Humanas, e essa problemática se torna ainda mais “problemática” Dã porque no âmbito administrativo adotam-se classificações simplórias com mera finalidade prática e organizacional, ainda que possam confundir alguém que pretenda investir em um curso do gênero ou mergulhar numa pesquisa sem o devido conhecimento das áreas. É por isso que quase todos os documentos oficiais classificam a academia em quatro correntes de pesquisa: 1. Ciências Exatas [ou Formais], 2. Ciências Biológicas [ou da Natureza], 3. Ciências Humanas [ou Sociais] e Linguagens; entre outras possibilidades de classificação que variam segundo a história e os autores que investem nesse tipo de esquema (ABBAGNANO), ainda que isso tudo possa ser mais complicado do que aparenta.
REFLEXÕES FILOSÓFICAS ACERCA DAS CIÊNCIAS HUMANAS
Já dissemos qual é o objeto de estudo das Ciências Humanas, mas isso implica dizer que não só os aspectos antropológicos e filosóficos que atravessam a humanidade entram em discussão nessa grande área, mas também os biológicos, históricos, geográficos, linguísticos, entre outros. Isso demonstra a complexidade da área, posto que isso implica em um diálogo contínuo e cíclico com outras disciplinas acadêmicas nem sempre próximas.
Não é por menos que as Ciências Humanas acabam adotando – de forma não tão rigorosa, mas provisória e estratégica – os modelos metodológicos de ciências como a Genética, a Bioquímica, as Linguagens, a Estatística, a Psicologia, entre outras. Visto que o ser humano é o animal bastante fod##& complexo e problemático, é natural que a atividade científica dedicada ao seu entendimento acabe carregando consigo as faces dessa “maravilhosa existência”.
Neste ponto você pode estar se perguntando: esse tipo de estudo não é papel da Antropologia, a ciência que estuda o homem? Olha, ao passo que a Antropologia se preocupa com a espécie humana em termos biológicos e culturais, as Ciências Humanas em geral se dedicam à compreensão e ampliação do conhecimento humano para além dos meros aspectos biológicos e culturais, isto é: suas relações socioeconômicas, o contato com outras formas de vida, sua expansão no tempo e espaço e as consequências dessa “trajetória shakespeariana”.
Não é por menos que um dos métodos de estudo mais difundidos nas ciências humanas é a hermenêutica[4], afinal de contas, não basta apenas reunir um monte de dados em prol de uma tese, pois é preciso interpretar as informações, atentando para a complexidade inerente à existência humana, além de que sabemos que as interpretações mudam com o tempo e espaço, o que sempre pressupõe a necessária adaptação do nosso ponto de vista sobre as expressões humanas em debate.
Deu para você perceber que não é fácil definir o que são as Ciências Humanas, e essa dificuldade faz parte da essência dessa grande área, acostume-se ou saia pela porta de trás! Ainda assim, se precisássemos defini-las com objetividade, poderíamos dizer sem grandes problemas que: as ciências humanas são um conjunto de estudos crítico-analíticos – no sentido simbólico e material do termo – da própria existência humana, seja na sua singularidade ou coletividade interrelacional; isto é, elas se preocupam com as relações humanas stricto sensu ou o contato dos seres humanos com o mundo em que vivem e os outros seres vivos que encontram... deu um nó no juízo? De qualquer maneira, essa é uma definição bastante particular, fruto da minha experiência como pesquisador e docente na área, por isso não a leve tão a sério... :P
Pois bem, a Filosofia entra nessa discussão porque é a principal responsável pela definição de certos conceitos fundamentais, o que desde Sócrates, Platão e principalmente Aristóteles trouxe consigo a missão de esclarecer o lugar de cada área ou atividade científica em questão, orientando a produção acadêmicas desde os tempos antigos. É por isso que essa tentativa de esclarecimento o que seriam as Ciências Humanas pressupõem um exercício filosófico constante, o que de certa forma revela a atuação primordial da Filosofia antes de qualquer produção acadêmica.
[1] Texto parcialmente compartilhado com o Blog da Pensar EaD; para conferir a edição fornecida para a página, clique aqui.
[2] Atualmente é Professor Dr. de Filosofia, também trabalhando eventualmente com disciplinas como Sociologia e Geografia nas redes Privada e Estadual da Paraíba e Rio Grande do Norte respectivamente; também atua como professor contratado/substituto de Filosofia em instituições de Ensino Superior da Paraíba.
[3] Indo além disso, por ser a mãe de todas as ciências, a Filosofia acaba atravessando a grade curricular de todos os cursos de nível superior. Sendo assim, tenha certeza de uma coisa: quando estiver na Universidade, ano após ano a Filosofia olhará no fundo de seus olhos, tal qual o exterminador do futuro, e dirá: I'm back (Terminator 2)!
[4] Outra linha de estudo filosófica, a “arte da interpretação”, talvez o ponto de maior vinculação entre as Ciências Humanas e a Filosofia.
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