VAL
- jefferson5684
- 5 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de set. de 2021

Diagnosticado com câncer na garganta em meados de 2016, mas com uma cura relativamente rápida, Val Kilmer se vê forçado a se retirar dos holofotes de Hollywood e dos teatros que ele tanto amava. Com Déficit vocal devido aos graves efeitos da radiação e da quimioterapia, Val utiliza um aparelho na garganta que o permite falar através da emissão de uma voz robótica que dificulta um pouco a comunicação e consequentemente o entendimento. É assim que se inicia o belíssimo documentário VAL da Amazon Prime, mostrando um homem fragilizado em meio ao seu latifúndio de lembranças objetificadas em um galpão enorme que ele utiliza até hoje para guardar gravações de bastidores, ensaios e roteiros originais de praticamente todos os filmes e peças de teatro que trabalhou na vida.
O documentário, bem distante da maioria dos filmes dessa categoria que habitualmente trazem entrevistas com parentes e amigos, é narrado pelo seu filho, Jack Kilmer e também conta com a participação de sua filha, Mercedes Kilmer. Filho do casal de classe média, Eugene e Gladys Kilmer, Val tinha mais dois irmãos: Mark e Wesley. É em meio a esse contexto que o enredo se desenvolve, mostrando inicialmente uma criança que praticamente nasce imerso no mundo das artes, com um irmão que ele descreve como: “um gênio artístico com imaginação superior à minha”. Podemos apreciar um material familiar e caseiro maravilhoso, com cenas escritas e interpretadas por Val e Wesley em sua casa e também reinterpretações de clássicos do cinema e do teatro feitas por essas crianças de maneira bem rudimentar, com os poucos recursos que a época os oferecia. Todos os filmes eram dirigidos por Wesley, seu irmão mais novo. O hábito de carregar uma câmera para toda parte é levado por toda a vida de Val, o que permite que ele colecione também cenas de arquivo de todos os filmes que participou na vida. Filmes como Batman Eternamente (1995); Top Gun – Ases Indomáveis (1986), que contém um material muito bonito revelando sua amizade com Tom Cruise sendo construída no decorrer do filme; além dos aclamados Fogo Contra Fogo (1996), dirigido por Michael Mann e aquele que talvez seja o seu principal papel: The Doors (1991), em que Val tem a oportunidade de interpretar uma das maiores figuras da história do rock, o vocalista, Jim Morrison.
VAL nos apresenta um grande ator, inclusive, o mais jovem da história a ingressar na renomada escola de teatro Julliard, em Nova York, mas também um homem que colhe os frutos de uma vida dedicada a uma carreira frustrada. Val Kilmer sempre sonhou em dar continuidade a tudo aquilo que ele aprendeu na Julliard, de Eurípedes a Shakespeare, mas acabou sendo consumido e se deixando consumir pela indústria de Hollywood, onde fez muita fama, mas quase nunca com os papeis que sonhou para si. Fica nítido para quem assiste que o desejo de Val por realizar um grande filme o deixa bem triste, a ponte de já nas suas palavras iniciais dizer que seu acervo de gravações está “incompleto”. Acredito que a busca de Val por sua grande obra cinematográfica tenha acabado, o grande filme que ele tanto perseguiu acaba de ser lançado e era sobre ele mesmo. VAL é um belíssimo filme documental que vai te fazer refletir muito sobre a busca por um propósito, perfeccionismo, mas essencialmente sobre a oscilação da história da vida de um homem que um dia teve tudo, mas hoje vive das migalhas de uma fama que nunca quis ter, pelo menos não por aqueles filmes. VAL vai contribuir para o seu dia ser um pouco pior, ou seja, não vai mudar muita coisa. Enfim, assista VAL.
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