Uma problemática existencial
- José Odincs
- 25 de fev. de 2023
- 2 min de leitura

“A idéia da morte sempre me confortou, que minha vida possa terminar a qualquer momento me permite apreciar plenamente a beleza, a arte e o horror de tudo o que este mundo pode oferecer.”___Hannibal Lecter
A morte e o morrer são temas que permeiam nossa história. Questões que por mais fáticas na experiência existencial, ainda nos causam estranhamento, um constrangimento indigesto. Sabemos que vamos morrer e que todo ser vivo tem este destino. E de forma corriqueira temos no cotidiano a morte simbólica de muitas situações com as quais estamos constantemente nos defrontando. Mas diante de tudo isso, temos a questão experiencial que nos indica as formas pelas quais somos afetados ou não por todos os acontecimentos vivenciados. O ponto em questão é que mesmo sendo fatos, a morte e o morrer, não implica destes fatos uma única interpretação, muito menos um acontecimento no sentido da experiência que possa ser compartilhado de maneira universal. Sentimos das mais variadas formas, não somos seres engessados, formados por uma única matriz psicológica e sentimental. Tendo nisso o que muitas vezes é nosso maior desafio, já que precisamos lidar consigo de maneira constante. Por outro lado, somos seres sociais que temos no outro a experiência do “não Eu”, que em alguns casos é um “A Gente” ou mesmo um “Nós”. E por que falar da morte e do morrer? Porque somos seres que sentem na carne o poder destas experiências, somos atravessados por elas a todo momento. Por isso, refletir sobre os acontecimentos em nossa vida, entender nossos sentimentos também é importante para darmos sentido a essas experiências, já que estas podem ser encaradas de formas positivas, como é o caso do Hannibal Lecter, ou de maneiras tão negativas que levam alguém a momentos de aniquilamento. Quem já atravessou um momento de crise, tendo sido em algum dia atravessado pelo medo, insegurança, falta de ânimo, sabe muito bem como tudo isso é complexo e doloroso. Mas como tudo nesta vida, nossas experiências são também múltiplas, cheias de possibilidades e perspectivas. Entender a existência enquanto campo experiencial fluido, nos permite também superar o que pesa, o disforme, a morte e o morrer. Numa análise sem tanto critério, podemos dizer que a experiência da morte abre um campo de possibilidades para além do já experienciado. Basta saber a forma com a qual encaramos este novo lançar-se, pois como citado anteriormente, podemos olhar com os olhos do Hannibal Lecter ou fecharmos os olhos e nos entregar a escuridão. Ao final é preciso treinar o olhar, pois ao mudar a forma do olhar, transforma-se também, o sentir.
Texto de: José da Mata Bonfim Filho - Graduado em Filosofia pela UEPB
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